Crônicas de Zandor
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Mensagem por Vinicius Marinho Sex Abr 14, 2017 10:50 am

A JORNADA DE CNARËNDIR NARDUL

Eu tenho lhes observado há dias. Eles estão coesos entre si no propósito de destruir o dragão.

Sua vontade é grande, mas lhes falta ímpeto – aquele que só um animal, ao iniciar uma caça, tem.

Eles se dirigiram a um dos altares sagrados da Floresta, e eu os segui. Duas quimeras defloravam a já quase esquecida sacralidade do lugar, mas eles interviram. Ganharam, por fim, minha admiração. Eu os testei por dias, e finalmente senti que poderia me apresentar.

As quimeras foram destruídas, e nós conversamos longamente. Seu desejo era encontrar um druida capaz de restaurar a floresta das cinzas.

Como eu disse, sua vontade é grande, mas lhes falta ímpeto. Deliberadamente, criei terríveis dificuldades. Haveriam de me conseguir a humilhação do maior líder dos elfos, e o pesar de cada elfo daquela floresta.
Haveriam de se curvar aos caprichos incompreensíveis da natureza, de modo a conseguir seu auxílio. Haveriam ainda de dar a certeza, a todos os que eventualmente soubessem do que foi feito, de que os pedidos feitos para a Floresta trazem um custo.

Confesso que imaginei que eles não cederiam. Sempre vi os elfos como altivos seres, arrogantes em sua contemplação do todo natural.

O líder, sequer hesitou – removeu todos seus pelos e entregou-me em uma sacola. Os demais elfos, desde o mais sensível até o mais duro, choraram por horas para me dar suas lágrimas. Eles não reagiram quando eu destruí a sala do trono em busca de terra, e nem quando cortei o homem que cedeu os cabelos.

Para mim, parecia prova suficiente, e a vontade daquelas criaturas, traduzida nos sacrifícios que eu havia lhes imposto, empoderaria qualquer ressurreição da Floresta das Cinzas. Eles me escoltaram até a floresta, sem muitos embaraços. Os ventos da boa sorte estavam ao nosso lado enquanto atravessamos o vale.

Senti a dor da floresta morta. Senti o desespero da vida que tenta se reformar, mas é impedida pela rocha irremovível. Senti pena das antigas arvores que tiveram seu esplendor tomado. Senti a morte onde só deveria haver vida.

Seriam necessárias oito horas de profunda meditação e concentração. De início, usei pedras coletadas pelo caminho sobre o tronco morte de uma árvore – com elas eu haveria de construir um castelo, uma fortaleza para a vida.

Com a terra, pelos e lágrimas dos elfos, eu fiz o barro. Usei-o quase inteiro, na parte de dentro do círculo de pedras, de maneira a formar uma bacia. Enchi o recipiente de água. Com o barro que sobrou, moldei duas pequenas carpas – esses peixes canalizarão a vida de volta ao lugar, e protegerão contra as investidas de quem quer que sejam.

As carpas tomarão vida quando o ritual terminar, se terminar.

Após exaustivas horas invocando os espíritos da natureza e de tudo que é vivo, pude ouvir o violento bater de asas de uma enorme criatura. Senti o cheiro sulfúrico à distância, e o estremecer da floresta, rompendo em um medo terrível. A criatura vem em minha direção, e falta muito pouco para resgatar a floresta.

Talvez eu morra aqui, tentando reviver esse lugar. Não faz mal. Eu já morri uma vez, e foi a Floresta que me trouxe de volta. Minha vida pertence a ela, para fazer como bem entender.

Eu estou pronto.

Vinicius Marinho
Kobold Slayer

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Mensagem por Vinicius Marinho Sáb Abr 22, 2017 8:11 pm

O RELATO DA VIDA DE CNARËNDIR NARDUL, RECUPERADO DOS MANUSCRITOS DE ESMERALDA.

13/09/5492.

Os dias tem passado com uma sobrenatural pressa, enquanto eu medito. Eu já não me sinto como sempre me senti. Acostumado a levar o equilíbrio natural por onde viajo, agora sou eu, que me encontro perturbado.

Desde a Ilha das Lágrimas, eu sempre compreendi a natureza como o maior exemplo de equilíbrio – onde uma poderosa força surgia e obrigava seus arredores, surgiam também poderosas energias que lhe resistiam, garantindo um balanço.

Era assim que eu via os dragões – como poderosos seres, recheados de vida e ímpeto. Eles modificam o ambiente ao seu redor, e como reis imbuídos de dignidade, dominam o mundo como o leão domina a savana. Para mim, não havia motivo para me opor diretamente a qualquer um deles. Aqueles que se sentissem violados, que tomassem um lado, como o antílope que se opõe à Leoa que o caça.
Uma elfa da Clareira, Melila, após um longo debate, me fez mudar de opinião.

O ritual para ressuscitar a Floresta das Cinzas foi concluído com sucesso. Após horas extenuantes de cerimonial, o grupo foi atacado por um imenso dragão vermelho e suas tropas auxiliares. Todos eles, Maiev em particular, se prostraram como escudos contra o monstro. Suas memoráveis habilidades permitiram enfim que eu conseguisse terminar o encanto.

A Floresta das Cinzas agora se chamará Floresta de Morgodon, o Sem Pelos. Seu sacrifício em nome dos elfos será, para sempre, lembrado.

Depois, rumamos para um forte, próximo do local do ritual, não sem antes extrairmos a pele da enorme criatura. Minha alma chorou por ele. Jamais saberei seu nome e, pelo fio da espada, os milhares de anos que viveu e influenciou a natureza ao seu redor, chegaram ao fim. O único conforto está em que seus restos alimentarão o crescimento da Floresta, e talvez, sua alma viva ali para sempre, purificada.

O forte estava vazio, exceto por dois soldados, que fugiram quando nossa presença se tornou conhecida. Em um alçapão no subsolo, encontramos animais, que foram domados. Eles foram libertados e no ninho, encontramos um pouco do material que Varkatosh estava extraindo.

Atravessamos o rio e dormimos. Foi quando eu senti pela primeira vez. O poder dos elementos se fez carne em mim. Eu conseguia entender o fogo, ver o vento, ouvir a terra e degustar a água. Cada centímetro de meu corpo foi empoderado pelos quatro elementos e eu senti o chamado da Natureza. Eu ainda não havia percebido, mas foi naquele momento, seis dias atrás, que os espíritos pela primeira vez me avisaram – eu comecei a me viciar por poder.

Do acampamento, as árvores se abriram e num instante, estávamos de volta à Clareira. O grupo se aconchegou por alguns dias, até que os líderes do lugar – após um banquete em homenagem à ressureição da floresta –, solicitaram nossos serviços para explorar um templo da Era de Ouro dos Elfos.

Um ritual foi feito para que localizássemos a entrada do templo, e dois dias depois, partimos. Conseguimos entrar e fomos continuamente testados. Quando questionado, disse a verdade – buscávamos armas para lutar contra os dragões. Agora, dias depois e após extenuantes meditações, já não sei se falava a verdade completa, ou se menti para mim mesmo.

Na Clareira, conversando com Melila, e sentindo o sofrimento da floresta, mudei minha forma de ver os dragões. Eles não são forças da natureza, que se impõem com o poder que lhes foi dado, são só forças que influenciam aqueles à sua volta, e não há um equilíbrio maior no que fazem. São filhos da natureza, mas parecem ignorá-la. Passei a vê-los mais como os humanos, que, sem o cuidado com o ambiente ao seu redor, consomem tudo, ignorando as consequências. É terrivelmente curioso, mas já não sei se acho os dragões tão interessantes como antes – meu sonho de me transformar em um, parece ter perdido o objeto. Os dragões encaram o mundo exatamente como os humanos: uma ferramenta a ser usada e descartada. Já luto todos os dias contra minha natureza inerentemente destrutiva, não preciso me tornar um réptil colossal para escapar dessa sina. Sob esse ponto de vista, eu e um dragão como Varkatosh, já somos a mesma coisa – mas eu luto todos os dias contra esse traço cruel, enquanto ele o abraça.

Mas, voltando ao templo... Eu não menti – buscávamos ferramentas para lutar contra os dragões. Não menti para os guardiões, mas hoje estou certo, menti para mim mesmo. Meu desejo não era apenas encontrar tesouros que auxiliassem a luta contra os dragões. Eu queria sentir o poder bruto circulando em minhas veias. Pulsando – como sangue envenenado – queria sentir o torpor inebriante da força bruta que eu posso controlar, se dobrando ante a minha vontade. Queria sentir que posso esmagar os que estão abaixo de mim. Reconhecer a brutal realidade do que eu comecei a me tornar me fez chorar.

Os desafios, entre eles um antigo golem de aço, foram superados, com considerável dificuldade. Mas a maior provação viria a seguir. Eu achei um baralho de cartas, aparentemente inofensivo.

Curioso, entendi a correta maneira de usá-lo e o fiz. Puxei três cartas. Meu corpo se encheu daquele torpor inebriante e eu senti o poder pulsando em meu sangue. E depois mais forte. Poderosos artefatos surgiram em minhas mãos, e a própria Morte veio das profundezas para coletar minha alma. Por fim, a palma de minha mão esquerda foi marcada.

Eu senti o poder, como ópio a me abraçar, e mesmo a Morte não conseguiu roubar-me a alma. Maradrin usou o baralho em seguida – e fortaleceu-se. Então foi a vez de Maiev.

Logo em sua primeira carta, caiu inerte no chão, aparentemente morto. Descansamos nas ruínas e o levamos à Clareira no dia seguinte. Com seus novos poderes, Maradrim descobriu que a alma de Maiev estava aprisionada em uma fortaleza nas profundezas do oceano.

Foi então que eu tive uma ideia – revelar mais cartas do baralho poderia dar novos poderes que, por sua vez, salvariam Maiev. Justifiquei meu ato pela culpa que senti, afinal fui eu quem achou o maldito artefato. E quanto mais eu medito sobre esses acontecimentos, mais percebo que, de novo, menti para mim.

Eu saquei as últimas cinco cartas. Senti o poder inebriante envolver meu corpo, depois minha compreensão do mundo aumentou, como se em um transe, eu tivesse descoberto verdades secretas. Em seguida, a palma de minha mão direita foi marcada, meus equipamentos foram transformados em pó, e um Cavaleiro imponente surgiu, jurando me proteger com sua própria vida se fosse necessário. Nada ali servia para ajudar o mago elfo.

Na teoria, eu devia conviver bem com essa escolha – era um sacrifício para salvar um valoroso aliado. No entanto, quando mais eu medito, quanto mais eu peço auxílio aos espíritos da natureza, mais eu compreendo que não foi o desejo de me armar contra dragões ou ajudar um amigo que me fez agir como agi – foi a busca por poder, a mesma que corrompe todos os humanóides da minha raça, que me fez sacar tantas cartas do baralho.

Significa que eu falhei. Falhei em evitar os jogos mundanos e falhei em ser melhor do que os meus pares. Percebo agora que eu jamais quis ajudar Maiev verdadeiramente – essa era a desculpa em meu coração, para justificar minha vontade em me sentir poderoso. Eu jamais conseguirei ser um dragão diferente dos dragões que conheci. Eles são moldados por sua natureza, e se tentam, falham em se manter humildes porque seu poder é avassalador.

Eu não possuo poderes avassaladores, e meus ossos se quebram com facilidade. E falhei mesmo assim. Devo me manter mortal, porque essa forma fraca e defeituosa é a única maneira de me redimir. Como um dragão, eu seria facilmente seduzido.

No caminho da redenção, e após muito ponderar, desisti de buscar alterar a forma que a Natureza me deu. Por muito tempo eu sonhei com isso, e, agora, meu sonho descansará.

As falhas de meu caráter foram expostas pelo artefato. Inicialmente, pensei que encontrá-lo foi um terrível acontecimento. Após meditar, reconheço que talvez, por expor meus pecados, o baralho pode ter salvo minha honra – talvez ainda seja possível aprender com meus erros e corrigi-los antes de cruzar o limiar sem volta.

Vinicius Marinho
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